‘Do jornal O Estado do Maranhão, edição desta sexta-feira, 11 de janeiro de 2012.
“Carnaval de São Luís vive círculo vicioso que precisa ser rompido’
Com o propósito de reestruturar o sistema de cultura, Francisco Gonçalves avalia a situação da Func e critica o modelo de Carnaval de São Luís.
O novo presidente da Fundação Municipal de Cultura (Func), Francisco Gonçalves, defendeu ontem, em entrevista a O Estado, um novo modelo de gerenciamento do Carnaval de São Luís, que, segundo ele, está mergulhado em um círculo vicioso. Ele falou sobre o orçamento da folia momesca e o lançamento da Campanha de Carnaval 2013, marcado para o dia 15 deste mês, às 17h, no Teatro da Cidade de São Luís (Rua do Egito). O Baile da Corte e o concurso para eleição do Rei Momo, rainha e princesas do Carnaval, acontecerão no dia 17, na casa de eventos Patrimônio Show (Centro Histórico), mesmo endereço onde serão realizados o Baile dos Artistas (dia 19, às 21h), o Baile da Felicidade e o Baile do Erê (dia 20, às 9h e às 16h, respectivamente). Os desfiles na Passarela do Samba acontecerão de 7 a 12 de fevereiro, a partir das 17h.
O Estado – Qual a principal meta da Fundação Municipal de Cultura?
Francisco Gonçalves – Nos próximos 120 dias, uma das nossas metas é reestruturar o sistema de cultura do Município. Isso implica em implantar a Secretaria e o Conselho Municipal de Cultura, bem como rever as leis de fomento à cultura do Município e, ao mesmo tempo, reestruturar a Fundação Municipal de Cultura ou, pelo menos, estabelecer o novo modelo da entidade.
O Estado – O que é necessário para que isso seja feito?
Francisco Gonçalves – Isso depende de levantamento de dados, de estudo, pois algumas dessas decisões já foram tomadas pela Câmara Municipal. O Conselho e a Secretaria de Cultura já foram criados. Agora, precisamos definir o processo de implantação e estudar o melhor formato de fomento à cultura para o Município de São Luís.
O Estado – Estamos próximos ao Carnaval. Qual o orçamento para este ano?
Francisco Gonçalves – O nosso orçamento é limitado devido às condições em que o prefeito Edivaldo Holanda Júnior encontrou a Prefeitura de São Luís, com uma dívida de quase R$ 1 bilhão e com ameaça de paralisação de serviços essenciais. Nessas circunstâncias, a Prefeitura não contrairá nenhuma despesa sem previsão de receita. Com R$ 2 milhões, temos condições de garantir a infraestrutura do Carnaval, que engloba os desfiles na passarela do samba, os bailes, as atividades da corte e os eventos comunitários.
O Estado – As entidades já foram informadas sobre isso?
Francisco Gonçalves – Nós já tivemos reuniões com a associação das escolas de samba e dos blocos, quando avaliamos o modelo de Carnaval que vem sendo desenvolvido em São Luís e suas dificuldades. Apresentamos a forma de participação neste ano. Nós não dispomos de recursos para cachê, pois isso implicaria em repasse imediato e a Prefeitura não pode arcar com essa despesa.
O Estado – É possível desenvolver outro modelo político para o Carnaval em São Luís?
Francisco Gonçalves – Com certeza. Nós temos um problema crônico em São Luís, uma vez que todos os anos enfrentamos esse debate sobre se haverá ou não dinheiro para montar a infraestrutura do Carnaval e arcar com os custos de apoio aos blocos e escolas. Esse problema faz parte de um círculo vicioso que precisa ser rompido. A forma de romper é não improvisar o Carnaval. Ao contrário, precisamos que todos os envolvidos no processo trabalhem com planejamento. Não podemos esquecer que Carnaval é também um negócio e as coisas não podem ser resolvidas com improviso.
O Estado – Qual seria a saída?
Francisco Gonçalves – A primeira atitude para que nós possamos sair desse círculo vicioso é a realização de um seminário com toda a cadeia produtiva do Carnaval, com todos os representantes dos setores envolvidos, para avaliarmos a festa como vem sendo feita até hoje, seu modelo, e estabelecer uma nova política de Carnaval em São Luís, além de planejar a festa de 2014. Isso acontecerá no mês de março deste ano. Essa será uma estratégia para sairmos desse circulo vicioso, que não garante a sustentabilidade política e financeira do Carnaval. O Carnaval precisa ser um momento de alegria e de atração do turismo interno e externo.
O Estado – O que dizer do modelo de Carnaval que se faz em São Luís, em se tratando dos espaços onde a festa acontece?
Francisco Gonçalves – Nós precisamos potencializar o Carnaval de passarela, os bailes, com uma nova forma de sustentabilidade. Os representantes das escolas de samba também acham que se deve rever o modelo de Carnaval de passarela, definir novas regras e formatos. Por outro lado, precisamos reforçar as experiências comunitárias, que são muito importantes. No período do Carnaval, sabemos que muita gente se desloca para o interior do estado à procura do convívio dos amigos e parentes, do convívio familiar que não encontra mais na capital. Logo, o Carnaval nos diferentes bairros estimularia a diversidade e fortaleceria essa experiência, que é fundamental para as pessoas.
O Estado – Essa experiência será feita este ano?
Francisco Gonçalves – Este ano, teremos um projeto piloto, já que os recursos são escassos. Nós iremos fazer esse teste em três espaços: Anjo da Guarda, Desterro e no circuito dos bairros Cohab e Cohatrac.
O Estado – Por que os principais eventos acontecerão este ano na casa de eventos Patrimônio Show, no Centro Histórico, e não no Circo Cultural Nelson Brito?
Francisco Gonçalves – Foi uma opção técnica. O Circo Cultural Nelson Brito havia sido desmontado, mas a lona foi reposta no lugar anterior. No entanto, para que volte a funcionar é preciso uma série de serviços e providências, e não teríamos tempo hábil para isso. Além do mais, isto implica em custos. Nós procuramos outro espaço para reduzir custos e garantir as condições de conforto e segurança para os foliões. Com relação ao circo, nós solicitamos ao seu corpo funcional que apresente um projeto de revitalização daquele espaço para que ele volte a funcionar plenamente, pois é de suma importância para as atividades culturais da cidade e para a cadeia de produção cultural.
O Estado – A propósito, o Concurso Literário será retomado em sua administração?
Francisco Gonçalves – Sim, claro. Ele voltará e para tal eu convidei o jornalista, escritor e poeta Paulo Melo, que tem vasta experiência, para ficar à frente desse projeto. Ele está compondo a nossa assessoria para orientar e revitalizar o concurso literário. Do mesmo modo como o Carnaval, o concurso e qualquer outra atividade que venhamos a realizar este ano nós queremos ter a segurança de que a fundação honrará seus compromissos financeiros com os artistas e produtores culturais.
O Estado – E a Feira do Livro?
Francisco Gonçalves – Após o Carnaval, vamos avaliar a agenda cultural do Município, que está sob a coordenação da Func, e tomaremos todas as medidas legais e administrativas para assegurar a programação deste ano, inclusive a Feira do Livro. No entanto, precisamos pensar a feira como a culminância de um processo e não como um ato isolado. Precisamos trabalhar esse evento, por exemplo, de forma articulada com a rede de bibliotecas da nossa cidade.
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